segunda-feira, 6 de novembro de 2017

DON'T STOP, CARLOS!


Pelos 115 anos de Drummond

stop.
a vida não parou, Carlos.
há gente morrendo parada em leitos múltiplos de hospitais.
o carro parado espera para levar um pobre coitado ao cemitério.
lá há flores e quem sabe alguma paz.
o outro automóvel parado está esperando o sinal abrir,
enquanto dentro dele um figurão fala ao telefone
sobre os seus milhões, mansões, instituições.
sim, Carlos, há milhões nas mãos de poucos e rosas murchas
nas falanges sujas de crianças famintas.
elas oferecem de mesa em mesa os seus desesperos.
sim, Carlos, ficamos parados observando a vida que segue
a 90km/hora sem ser multada.
stop.
o relógio das igrejas não param de tocar e o povo segue moribundo
para ouvir palavras de um livro dado aos negócios.
Carlos, lágrimas não pararam de correr, seguem pelos olhos injustiçados,
talvez seja um cisco do minério da sua terra,
onde se faz dinheiro e montanhas de dinheiro,
cisco que atrapalha o povo a contemplar a poesia.
Carlos, você se foi mas suas palavras andam pelas bocas do mundo.
infelizmente há canalhas que usam erroneamente
seu nome para fazer o povo parar de lutar.
stop.
o automóvel parou na porta do restaurante mais caro da cidade.
o povo perambula atrás de trabalho e dos filhos mortos pela rua.
catástrofes não pararam, Carlos.
a educação, sim, parou há uns dois séculos atrás.
poesia é um perigo, Carlos! dizem que ela constrói vândalos.
tem gente que quer parar o mundo, ou destruí-lo.
o amor, Carlos, segue nos aplicativos e podemos comprar
com dinheiro mais amor e mais likes.
stop.
a alegria anda parada entupindo bueiros,
a desigualdade lavando os carros dos patrões.
Carlos, apesar disso, continuamos a sonhar.
sonhamos carregando culpa, mas sonhamos,
mesmo com homens gradeando nossas paisagens
e gritando com vozes imperiais:
stop!
a vida parou na contramão
ou foi o homem na sua mistificação?
(VFM)

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